terça-feira, 9 de agosto de 2016

Exposição Hospitalar ao Vírus HIV

A exposição ocupacional ao HIV, segundo estatísticas, ainda, é bem pequena, quando comparada à exposição ao vírus da hepatite, por exemplo. O risco de contaminação pelo HIV por acidente com agulhas contaminadas é de 0,32%, ao passo que, para o vírus da hepatite C o risco é de 3%, e para a hepatite B chega a 30%. Ainda, o risco de infecção parenteral por HBV é de 6-30%, ao passo que para o HIV é de 0,35%, provavelmente, devida à baixa concentração de vírus no sangue e a infectividade do vírus.

Os casos relatados e documentados, no mundo inteiro, de contaminação por HIV de profissionais da saúde, são próximos de uma centena. De acordo com as palavras da Dra. Denise Cardo, do CDC - Atlanta, o HIV não adiciona risco, no entanto, o medo da infecção acaba por prevenir outras infecções.

O HIV foi isolado em sangue, sêmen, secreção vaginal, saliva, lágrima, leite materno, líquor e fluido amniótico; entretanto, estudos têm demonstrado que este vírus tem baixa infectividade e requer uma alta dose de inóculo para produzir a doença. As vias de transmissão da doença são relações sexuais, exposição a sangue e derivados e da mãe infectada para a criança. Sangue, sêmen e secreção vaginal apresentam o risco de transmissão de HBV e HIV. Fluídos sinovial, cérebro-espinhal, pleural, pericardial e amniótico não apresentam risco, desde que, não contenham sangue visível.

O risco mais comum num hospital é o acidente com pérfuro cortante. Alguns fatores podem ser agravantes do acidente com perfuro cortantes, por exemplo:

- A profundidade do ferimento;

- Existência de sangue no instrumento perfurante;

- A utilização do instrumento em contato com sangue de paciente;

- A constatação do falecimento do paciente fonte próximo à data do acidente, o que indica que este estaria em fase terminal da doença, com alta carga viral.

O roteiro de precauções universais preconiza o uso de luvas descartáveis, especialmente em atividades em contato com sangue e fluídos contaminados com este; as luvas devem ser substituídas no contato entre dois pacientes; os instrumentos perfuro-cortantes devem ser descartados em lixeiras adequadas para esta finalidade; e finalmente, os trabalhadores com lesões cutâneas devem se abster do contato com pacientes ou, alternativamente, fazer uso de dois pares de luvas.

Nos casos de comprovada contaminação pelo vírus HIV é recomendada a quimiprofilaxia pós-exposição nos moldes da Portaria nº 874 de 03-07-97 do Ministério da Saúde. Estudos mostram que o vírus HIV tem baixa infectividade e necessita de uma dose alta de inóculo para produzir a doença. Segundo recomenda Lambertucci, Titular do Departamento de Clínica Médica da FM UFMG, na contaminação acidental pelo HIV, o mais rápido possível, ou em até 72 horas, deve ser administrado coquetel dos seguintes medicamentos:

- Retrovir (zidovudina - AZT);

- Epivir (lamivudina - 3TC);

- Crixivan (indinavir).

Segundo recomendação do CDC - Center of Diseases Control - a profilaxia deve ser iniciada imediatamente, ou no máximo, em duas horas após a exposição. Estudos realizados em animais têm revelado a ineficácia da profilaxia após 24-36 horas.


Em estudos epidemiológicos (caso-controle) de exposição acidental dos profissionais da saúde, o uso do AZT (zidovidina-ZDV) resultou em 79% de redução da infecção. O tempo ideal de profilaxia encontra-se indefinido; no entanto, recomenda-se duração de 4 semanas para o tratamento. Associado ao AZT tem sido comumente prescrita a administração conjugada de um inibidor de protease - IP - que prejudica a fase final de formação do vírus HIV capaz de infectar células humanas.

David Ho, um dos maiores especialistas do mundo no estudo do vírus HIV, afirma que: Para vencer o HIV, bata logo e com força, reforçando sua teoria de que o vírus se multiplica rapidamente desde o momento da contaminação, havendo chance no sucesso do tratamento profilático, desde que iniciado precocemente. Infelizmente, o uso da profilaxia não garante 100% de sucesso. Existem casos relatados de soroconversão, mesmo após a correta administração de drogas antiretrovirais.

Interessante ressaltar alguns procedimentos que não devem ser realizados após uma exposição ao vírus.

No desespero, o trabalhador que se julga infectado, acaba tendo procedimentos perigosos ou que não possuem evidência de qualquer benefício. Nas contaminações por pérfuro-cortantes não utilize qualquer produto ácido ou cáustico, ou que contenha álcool, pois tais substâncias somente irão facilitar a disseminação pelo vírus na pele. Lavar os olhos com álcool pode ser algo desastroso, especialmente porque vascularizará toda a córnea.